Tenho por ti um ódio intenso
Ódio por me traíres
Por me enganares
Ódio pela tua trapaça
Odeio-te por despertares em mim
Minha face mais negra
Minha alma odienta e má
Odeio-te por revelar em mim
Essa capacidade escura
Que é minha pequenez
Odeio-te por destruíres a
Imagem da minha bondade
Odeio-te por desnudares
Minhas entranhas que
Acreditava serem imaculadas
Eu sou pior que tu
Por isso te odeio
E o pior é que talvez nem saibas
Ao certo o que me fizestes.
WD, s/d.
Minha cadela entra no elevador comigo
Sabe ela quando vai e quando vem
Não entende nada de mecânica
Tampouco de física
Mas sabe quando vai pra rua e quando volta pra casa
E eu... aprendi tanta coisa
Só não aprendi o que ela sabe
Como se ama.
Os fantasmas emergem
Aprofundo-me nas sombras
Desnecessário reflexo
No escuro não há contornos
A cabeça pesa
O mundo dóa
Sei que
e não porquê
Em espiral profundo
Mais e mais
Através se mim
Belezas
Dentro da escuridão
Frio e fuga
Visão da vida
Quero exorcizar
Todos os demônios
Evacuá-los todos
Num vômito violento
Devolver todo o veneno
De uma só vez
Aí banhar-me em água cristalina
Corrente
Flutuar
Viver
WD, s/d.
Despertando
Do peso da culpa
Liberto
Janelas abertas
Beleza e alegria
Poeiras da vida
Soprada contra a luza
Numa manhã que demorou
Suores e gritos mudos
Longas noites
Realidade e símbolos
Verdades e mitos
Sentir culpa de viver
Despertando
Do peso
Das roupas de metal
Frio e duro
Duelo
A ação e a inércia
O querer estar
E o estar só
Calor e beleza
Fazer valer
Recomeçar
Poeira da vida
Soprada contra a luz
Numa manhã que chegou.
WD, s/d.
De que adianta
Sair agora
Procurar a outra ponta
E não encontrar nada
Aqui
O conforto e o calor me acalmam
Neste útero
Na eminência do aborto.
WD, s/d.
Vasculho tuas gavetas
Procuro outras presenças
Invadindo teu espaço
Luto em teu território
Encontro solidão e vazio
Vasculho minhas gavetas
Procuro tua presença
Meu território está de luto
Com bandeira a meio pau
Alí passa um cortejo
Procuro saber o que é
Um coração jaz morto
Vasculho outro território
Encontro escombros e luto
Silenciosamente
Assim quero ir.
WD, s/d.
A única certeza da vida
Morrer
De maneira incertas
Se morre por muito pouco
Ou pouco
Com consciência
E também como louco
Afogado ou de sede
Por falta de apetite ou de bronquite
Morrer de amor é mais bonito
Daquele que devora
Tirando a calma
Sugando a alma
É muito triste
Mas é lindo
Sair do amor.
WD, s/d.
Vinha da tua casa
O som de mil guitarras
Como se aqui estivessem todas as cigarras
Soou como um fado
Fiquei tonto
Com vertigem
E sono
Estrelas e cometas eu vi
Que será que ouvi
Da tua boca:
Me espera que eu volto?
WD, s/d.
Num ventre
Maior
Infinito movimento
Que num momento
Faz o real
Fogo
Matéria
Brilho tecido
No espaço sem tempo
Que corre veloz
Sem perder a ponta
Do fio condutor
Por brilhos de lua
A essência perdida
Consegue o amor
O infinito movimento
Faz parte para sempre
Do ventre
Maior.
WD, s/d.
Com o corpo são
A mente enganada, confusa
Jogar as roupas, relógio e anel pela janela
e
Atirar-se na cama
Romper o elo da realidade
Entregar-se à insanidade
Voltar para casa
Sem sentido, sem mais sentir
A mente em torpor
Jogar as roupas, relógio e anel na cama
e
Atirar-se pela janela
Restaurar o elo da sanidade
Entregar-se à realidade
WD, s/d.
Imagem: https://confinaria.hypotheses.org/808
Caminho por nossa casa
Ando sem norte
Caminho por minha conta
Ando por tua casa
Tua presença mora em mim
E eu não moro na tua casa
Eu moro em nenhum lugar
Meus olhos nublados
O coração afogado
Os braços largados
Tenho frio, estou só
Caminho sem tua presença
Ando com tua ausência
Meus olhos te veem
O coração te quer
Meus braços esperam
Os teus que não me querem mais.
WD, s/d.
O que era terra agora é lama
Caminhar sobre a grama é difícil
Os pés afundam
Os sapatos saem
Este lugar tem
A beleza da metrópole
e
O conforto do campo.
Um banho
Uma colônia suave
Um par de sapatos limpos.
Num jantar de pessoas bem
Alimentadas
Informadas
Nunca sei
Se o café é servido antes
Ou
Depois do licor
E nem onde colocar
Meus sapatos sujos de barro
Reflexo
Dentro de mim a eternidade
Memória do mundo
Guardada num espelho
Escuro
A chama da sabedoria um dia aclare isso
Num átomo sem tempo
Talvez seja eu
O pai de meu pai.
WD, s/d.
Prestando atenção no teu respirar
Enquanto dormias
Pedindo ao céu para te guardar
Hoje peço que retornes na noite, em segurança
Que ironia!
Vindo dos braços daquele que amas
Voltarás para casa
Porém para os meus nunca mais.
WD, s/d.
Em algum momento do curso de escrita de textos (o prazer da leitura e da criação de textos), realizado na Faculdade de Direito no Largo São Francisco, os participantes receberam a tarefa de aplicar um questionário para crianças de até nove anos...
O que significa?
- Adulto: pessoa grande
- Água: água para beber, para tomar remédio, para regar plantas
- Amor: amoro do meu coração pelo papai, pela mamãe e pelo Z (o cachorro)
- Ausência: é quando estou sozinha
- Assassinato: não sei
- Deus: Deus é o pai de Jesus, ajuda as pessoas
- Dinheiro: para pagar o que a gente compra, dinheiro vem com trabalho
- Eternidade: ---------
- Lar: papai X, Z (o cachorro), eu, mamãe Y
- Igreja: onde vamos para ver Jesus, para ver o pai de Jesus
- Imortalidade: ----------
- Lembrança: é o que a gente lembra na cabeça
- Mãe: minha mãe mesma: adulta, grande, pessoa, minha mamãe querida
- Medo: medo do lobo, do leão, meu coração não bate!
- Morto: é ir para o céu com Jesus
- Nada: é não fazer nada, é ficar parado
- Nascer é a gente vir para o mundo
- Criança: eu mesma
- Religião: -----------------
- Sombra: formato da pessoa na rua por causa do sol
- Tranquilidade: ficar tranquilo, não fazer nada
- Universo: ----------------
WD, s/d. (provavelmente em 2013)
Pra poder voar
Pra poder procriar
Cantar o amor e a vida
Voar livre elos céus
Procriar pra reverenciar a natureza
Nascer, cantar voar, procriar, encantar, morrer
Sem hit parade
Sem riscos de danificar outras rotas
Sem escolaridade
Sem exigências
Sem manhas e rompantes
Nascer, cantar, voar, procriar
Sem compromissos morais
Sem atividade bancária
Sem herança
Sem diagnóstico diferencial
Sem tratamento de ponta
Sem manchetes
Sem sucessos
Só, cm as próprias penas
Nascer, cantar, voar, procriar, morrer
Pensei e elegi
--- quer ser uma sabiá!
Selma Reininger, s/d.
é o vazio, o escuro,
mas despedir-se do vivo é infinitamente desesperador
é como ter que arrancar-se os olhos, cegar-se totalmente
é um sentimento de catástrofe
é o mundo ruindo ao redor
não é saudade que se sente e sim a dor da solidão
Não existe mais o ser amado para lembrar-se
e sim o ser que se quer a todo custo esquecer.
É uma fúria do lado de fora que se que aplacar
trancar portas e janelas, tapar os ouvidos para não ouvir
sequer um sussurro
e toda a verdade é uma enorme mentira.
WD, s/d.
Despertando em sobressaldo
Saldo do sonho ao real
Com princesas
Reis e Sábios
Num quarto principal
Caminho
Buscando
Tantos quantos
Sou eu
Olhando o reflexo
Encontro o que pensei
Não sei
Sou pensado
Caminho em direção às janelas
De dias claros
De sol
De mil noites
E uma
Lua
Brilhante
Cristal
Pelo quarto caminho
Abrindo portas
Que guardam
Passado e futuro
Segredo de mim e do todo
Saída para o mundo real.
WD, s/d.
costurando carros e louvando a Senhora,
vai a fé em procissão.
O clero na frente,
os fiéis atrás,
em meio a isso,
os escolhidos carregam o andor
com a santinha vinda de Portugal,
de Fátima.
Ao redor da igreja, pessoas.
Muitas pessoas, fiéis ao desejo das lembrancinhas,
em barracas improvisadas,
imagens várias,
de devoções diversas,
fitinhas de Bonfim
com o nome da Santa
e as próprias Santas, de Fátima,
vindas da China.
WD, s/d. (em algum dia 13, próximo ao Santuário de Fátima, na Avenida Dr. Arnaldo.)
