Textos e alguma Imagem

São Paulo, São Paulo, Brazil
Coisas sérias e bobagens

domingo, 23 de junho de 2013

Melhor assim


Se alguém por mim lhe procurar

diga que não me conhece


um engano, nada para falar


que nunca ouviu meu nome


nem nunca ouviu escutar


sábado, 22 de junho de 2013

O susto


Estava no banho quando senti um mal-estar.

Meu Deus o que será, chegou minha hora? Deixe ao menos me vestir, morta no banheiro e ainda pelada! Não, não, não! Saí do banho rapidamente e vesti o roupão, que alívio, fiquei sentada até passar o tumulto.


Com oitenta e um anos completos, sempre tenho a impressão de que a morte me espreita, me ronda, fica atrás de mim como um cão esperando a comida com fome voraz.


Cuidei de meu marido até ele ir, eles sempre vão primeiro, acredito que somos difíceis de aturar, minha avó também ficou viúva, como minha mãe, cuidei dela até morrer, morreu sentadinha, à tarde vendo tevê, tranquila, de pernas cruzadas, mãos sobre o colo, elegante como sempre foi. 


Cuidei dos filhos, dos netos um pouco, mas dos bisnetos não, não tenho mais força pra isso e nem ficar balbuciando imitando a pequena pessoa, me sinto como uma retardada, me cansa, gosto de ficar no meu canto quieta, se bem que não fico muito, só paro quando pego um livro pra ler, e isso é uma das coisas que me dá prazer nesta vida, porém o que eu gostaria mesmo é de ser escritora, ter uma biblioteca com livros até o teto, uma escrivaninha e uma berger bem confortável pra sentar com abajur ao lado e uma máquina de escrever portátil pra quando quisesse colocar no colo, gostaria de escrever estória de mulheres fortes, de mulheres fazendeiras, de mulheres comerciantes, de mulheres da vida, coisas assim já que a minha realidade sempre foi de submissão, nos meus escritos eu poderia ser tudo, até Cleópatra e como tal mataria a serpente e mandaria um artífice fazer uma bolsinha com a pele para meu perfume predileto,  número cinco e com ele conquistaria outros poderosos imperadores.


Em verdade eu penso muito e faço pouco,  além do peso dos anos, tem o cansaço, mas não muito, só fico cansadinha.


Tenho ainda os meus prazeres, secretos e que morrerão comigo.


E quando estiver lá, deitadinha, com as mãos no peito, no meio das flores dirão: Tão boa, uma mulher admirável, uma santa! Nesse momento eu estarei, não sei onde, rindo e pensando Como são ingênuos, não sabem nada.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

Fuga


Correu desesperada, o salto ficou preso, ele estava cada vez mais próximo, seguiu descalça,

correu, correu, correu, a sombra já estava bem perto. Ela ouviu seu nome, era ele!


terça-feira, 18 de junho de 2013

A carta


 Marília, 06 de outubro de 1976


Cara amiga Martha

Faz dias que quero escrever-lhe, uma coisa e outra acaba o dia e nada, nem uma linha. O que o médico disse dessa sua tosse insistente? Espero que seja somente por conta do tempo seco, esta época tem muita fumaça também, desejo melhoras.

Estava louca pra lhe contar um fato ocorrido semana passada. Você se lembra do senhor Fernandes, aquele que tinha farmácia aqui perto de casa? Pois bem, ele mesmo, o bonitão, cá entre nós, sempre foi, agora mais encorpado e grisalho, ficou impossível passar por ele sem notar sua pessoa.

Você sabe amiga, sou uma mulher muito reservada, se olho pra alguém, quando não consigo evitar, faço muito discretamente, e não foi diferente com ele, bem acho que foi um pouco diferente.

Martha querida, domingo passado foi  ao batizado da netinha da Isabel Baptista, linda criança, e já está com três meses, o senhor Fernandes estava na igreja, ele é parente do marido da Isabel, acho que são primos.

Cara minha, fazia muito tempo que não ficava tão perto de um homem, depois que o Renato se foi, só fiquei perto dos homens da família, e ficar perto desse homem, minha nossa.

Vou confessar-lhe, coisa que só tenho coragem de contar a você, não tenho confiança   em mais ninguém.

Seguimos todos, da igreja para a fazenda Esmeralda, para o almoço, estava tudo muito bonito por lá, as mesas colocadas no gramado em frente a casa, arrumaram tudo com muito capricho, afinal eles tem dinheiro e podem fazer bonito .

Eu estava caminhando pelas mesas quando o senhor Fernandes a minha frente puxou uma cadeira para eu sentar, confesso amiga, minhas pernas fraquejaram, sentei-me logo pois se não o fizesse cairia no chão.

Sem exagerar nada, faz muito tempo que estou viúva, e acho que por isso,  a atitude dele fez meu sangue circular muito rápido e acelerou meu coração, ah acho que foi o contrário, de um jeito ou de outro me senti incendiar, um calor que quase desmanchou minha maquiagem.

Tentei me recompor, ele se sentou ao meu lado, e acredite começou a falar de amor, assim, sem mais, falou de relacionamentos duradouros e eu, que tinha me acalmado um pouco comecei  ficar agitada novamente.

Fiquei com a boca fechada meio tonta, não conseguia responder nada, só balbuciava

hã hã, eu. tinha medo de abrir a boca e minha alma sair por ela, me abandonar, junto com meu coração. Disse-me ele que queria fazer o pedido de casamento naquela hora na frente de todos, sentia que dessa vez ele seria um homem muito feliz. Me deu muito medo que meu coração não resistisse tamanha emoção, levei a taça de vinho a boca para um gole, pensei que me acalmaria, nesse momento ele disse: Será agora! 

Meu coração parou por um instante, ele se levantou, foi em direção a Carlota e com voz firme como se fosse fazer um pronunciamento histórico pediu-a em casamento. Ela sorriu fingindo surpresa e meu vestido ficou molhado de vinho.

Martha querida, não foi dessa vez, quem sabe  não aconteça, em verdade lhe digo: Melhor que não aconteça mesmo, caso isso ocorra, irei sem derramamento de vinho direto pro pronto-socorro.

Beijo 

De sua amiga


Carmen Lúcia


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Biografia



    Estranho escrever uma biografia soa ainda mais estranho se é uma autobiografia ou ainda autorradiografia, prefiro que seja um breve relato, cansa menos.

    Já que é para escrever, então rasgarei a seda, será uma avalanche de autoelogios  que soterrará qualquer possibilidade, em algum momento da posteridade, alguém contradizer este escrito, não pouparei nada.

    Nasci na Maternidade de São Paulo na rua Frei Caneca, no dia 30 de julho às sete horas e dez minutos, numa manhã fria e garoenta, é o que me contaram, não me lembro dessa fase, no final da primeira metade do século passado no ano de 1947.

    Já vim ao mundo famoso, com nome de rua e tudo, naquele tempo não precisava morrer para ter a placa com seu nome pregada em algum muro de esquina, como minha rua era particular a placa era vermelha, o orgulho era o mesmo, presente de meu pai pro seu filho querido, eu.

    Minha avó materna morava numa chácara de cultivo de flores na rua Maria Antônia, onde não se cultivou nada depois da morte de meu  avô, José Justo, só restou uma horta pequena pro diário, eles eram portugueses ambos da Freguesia de Coimbra, a cidade de minha avó tinha paragem, a de meu avô apeadeiro.

    Minha avó paterna era de Trás-os-Montes, meu avô de algum lugar que não sei, talvez Paris ou Bruxelas, veio ainda criança para o Brasil.

    Tive um pai ótimo que precisei chegar a maturidade para entendê-lo, generoso deveria ser seu nome mas foi batizado Raymundo Humberto Dupont, nasceu na rua Asdrúbal do Nascimento, quase praça da Sé, tinha defeitos, hoje isso não importa, e tenho minha mãe, hoje com noventa e oito anos, muito sensata, uma mulher alta de menos de um metro e quarenta, altiva sem ser arrogante, como meu pai sempre foi generosa, que felicidade a minha de ter uma mãe assim acolhedora, que literalmente dava colo, cuidou muito bem dos quatro filhos, este que agora escreve e que nada tem a reclamar,  de uma mãe de qualidades, defeitos eu nunca os encontrei, eles eu deixo para minhas irmãs dizerem, elas sempre acham algum erro em minha mãe. 

    Tive uma infância feliz, com choros, risos, ria tanto que molhava as calças, chinelos certeiros, boa educação, boa comida, leitura para dormir, e não era sempre a mesma estória pois como meu pai trabalhava com livros sempre tivemos muitos em casa, e ainda tínhamos carro e telefone, este último um privilégio para poucos, é que meu tio Mário trabalhava na Cia Telefônica e conseguiu uma linha para cada membro da família, o nosso era de parede, já sem manivela como era o de minha avó. Tive também uma madrinha linda, eu vivia grudado nela, pelo doce que ela era e pelos doces que fazia, doces e bolos para casamento, era capricho feito de açúcar, a casa dela era enorme com um quintal imenso, com pombas, galinhas, cabra que dava leite, porquinhos de passagem, ficavam pouco tempo lá e um cavalo chamado Pinguinha que puxava a charrete pintada de azul onde as vezes eu passeava.

    Era uma criança alegre mesmo sendo um boca-aberta que chorava muito.

Nunca fui chegado a futebol, naquele tempo já era adepto ao dê uma bola pra cada um, gostava de piscina, bom aluno nunca fui, gostava de desenhar e odiava tabuada, mas o tempo nos verga como bambu, aprendi toda ela, do um ao nove, me lembro de cor e salteado, e da palma da mão latejando de tanta reguada que levava por conta de não sabê-la, do sádico menino muito estudioso e tão perverso quanto a professora que quase o aplaudia de tanta felicidade no Grupo Escolar Santo Antônio do Pari onde fiz o curso primário, aliás a única experiência de escola  que tive na vida, já que o ginásio e o colegial estudei em casa por conta própria, 

    Assim cresci, morando perto do rio Tietê e das lagoas que existiam ao seu redor com muitos peixes, alguns maravilhosos e multicores, das garças que ao entardecer voltavam para o seus ninhos numa ilha que ficava um pouco antes da ponte de madeira da Vila Guilherme.

No  bairro do Pari passei também minha juventude, cheia de complexos, de burrice, de feiura, de inferioridade mas treze anos de análise resolveram isso e outros problemas, o da virgindade foi resolvido já saído da adolescência e efetivamente na rua Ribeiro de Lima.

    Tive quatro relacionamentos sérios e felizes com pessoas corretas e honestas, sem filhos, o último segue feliz como os outros foram, mas melhor, pela minha maturidade, de como vejo a vida hoje.

Sempre gostei muito de desenhar, fiz cinco anos de escola de desenho, toda minha vida desenhei muito, posso dizer que toda ela  é um desenho, às vezes definido ou rabiscado, bonito outras nem tanto mas posso dizer que tenho um traço sincero, faz pouco descobri-me poeta, posso rabiscar múltiplas ideias e isso é bom.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Carta à professora e colegas



São Paulo, 14 de junho de 2013.

 

Cara professora e caros colegas,

 

Sinto já o apartar de nossos caminhos que se cruzaram, num momento mágico e tão raro em minha vida.

Para mim, ficará como algo precioso, num tempo no qual a maioria das pessoas caminha para a inércia. É justamente neste momento que meus horizontes se ampliam ainda mais, com possibilidades incríveis, descobrindo o caminho da leitura e da criação de textos. Isso é de uma grandeza impar.

Neste semestre, as experiências passadas nos domínios da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, com a professora Fabiana, engrandeceram meu intelecto, meu espírito e meu senso de observação, que nunca esteve tão acordado; estou acordado para vida, acordado em todos os sentidos da palavra.

As ferramentas que me foram dadas por gentileza e boa vontade pelos professores (professor  Casella, por sua aula e seu livro; professora Fabiana, como mestra que é) também me deram a espuladeira para trabalhar num tecer de palavras, Fui transformado num homem sensível e feliz, capaz de expressar minhas ideias com mais clareza e objetividade. Hoje posso dizer que sou um poeta, as palavras que habitam em mim saem como fios, misteriosamente ordenadas, compondo uma série de textos, como uma trama preenchendo o urdume que ali esperava para se transformar num tecido. E isso é maravilhoso!

Aos meus colegas agradeço por partilharem comigo seus escritos, suas dúvidas e mostrarem os seus melhores textos, sutis como as sedas do oriente ou fortes como mantas de lhama.

A todos minha gratidão.

 

WD


domingo, 9 de junho de 2013

N. Winton


Dignidade, caráter, generosidade e determinação, portanto um homem forte, salvou muitas vidas, só por isso, por ter dignidade, caráter, generosidade, determinação e boa vontade.

ESSAS QUALIDADES MUDAM O MUNDO.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Apontamentos...


Comparação entre dois ceramistas Eduardo Chillida e Paolo De Poli, o primeiro voltado à arte escultórica e o segundo voltado a cerâmica decorativa e as técnicas de esmalte.

A revista italiana ARTE nº 281  de 1997, em matéria escrita por Marta Matteini, fala do ceramista Eduardo Chillida  (19242002), artista espanhol de San Sebastian, país Basco. Ele é considerado o escultor  de maior destaque no século XX.

Segue resumo da matéria:


Eduardo Chillida Juantegui (1924 — 2002) foi um dos mais famosos escultores e gravuristas modernistas espanhóis. Junto com Jorge Oteiza, Chillida é considerado o escultor com mais destaque no século XX.

Seguidor da tradição de Pablo Picasso, após abandonar os estudos, ingressa num curso de desenho e começa, enfim, a esculpir ferro.

Em 1948 muda-se para Paris, onde se tornou amigo de Pablo Palazuelo, que o influenciou profundamente na sua carreira artística, concedendo-lhe o gosto pelo abstracionismo.

No início da sua carreira costumava utilizar materiais como a madeira e o ferro. Porém, quando começa a explorar a arte abstrata, começa a interessar-se por materiais mais diversos como a pedra e a luz.

Seis anos mais tarde, realiza a sua primeira exposição individual, sendo esta a primeira mostra de escultura abstrata realizada em Espanha. Após esta exposição, é convidado pelo arquiteto Ramón Vázquez Molezún para participar na Trienal de Arte de Milão, em Itália, recebendo seguidamente o Diploma de Honor.

Participou, em 1959, na segunda Documenta de Kassel.

Na década de 1970, Chillida dedica-se a observar a Natureza em busca de informação sobre as formas e cores das plantas e de inspiração, e, a partir da década de 1980, passa a conciliar a sua arte com espaços naturais e, majoritariamente, urbanos.

Em 1987, torna-se académico da Real Academia de Belas-Artes de São Fernando e, dois anos antes da sua morte, concretiza um dos seus sonhos, inaugurando um museu dedicado a si próprio, o Museu Chillida-Leku.


Martin Heidegger

A queda de Deus, do rei, e da metafísica clássica, fez com que Heidegger, rompido definitivamente com o catolicismo desde 1919, concentrasse o seu interesse no ser, no ser-aqui, na existência (Dasein), vindo a ocupar o vácuo deixado por um "mundo sem Deus", anunciando-se no cosmo filosófico alemão como uma nova estrela do amanhã.


sábado, 1 de junho de 2013

Reisado


Divina Estrela proteja nosso reisado.Senhora Rainha sobre o andor, olha feliz a romaria com olhos baixos e sorriso discreto, vai balançando. Seu manto estrelado brilha azul no dia de sol. Salve Rainha, Senhora das Alegrias, feliz com esse reisado. A cantoria ecoa nas ruas estreitas. O louvor vai pro céu. Nas sacadas devotos em família acompanham a procissão seguir. Salve Rainha dos que creem e cantam o refrão:
Salve Rainha Senhora das Alegrias,
Esperamos que acabe com a tristeza
Que carregamos no coração.
Divina Estrela
Proteja nosso reisado.
Viemos em romaria
Cantar e louvar  
A Senhora das Alegrias
Com seu manto estrelado.

Salve Rainha!