Textos e alguma Imagem

São Paulo, São Paulo, Brazil
Coisas sérias e bobagens

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Biografia



    Estranho escrever uma biografia soa ainda mais estranho se é uma autobiografia ou ainda autorradiografia, prefiro que seja um breve relato, cansa menos.

    Já que é para escrever, então rasgarei a seda, será uma avalanche de autoelogios  que soterrará qualquer possibilidade, em algum momento da posteridade, alguém contradizer este escrito, não pouparei nada.

    Nasci na Maternidade de São Paulo na rua Frei Caneca, no dia 30 de julho às sete horas e dez minutos, numa manhã fria e garoenta, é o que me contaram, não me lembro dessa fase, no final da primeira metade do século passado no ano de 1947.

    Já vim ao mundo famoso, com nome de rua e tudo, naquele tempo não precisava morrer para ter a placa com seu nome pregada em algum muro de esquina, como minha rua era particular a placa era vermelha, o orgulho era o mesmo, presente de meu pai pro seu filho querido, eu.

    Minha avó materna morava numa chácara de cultivo de flores na rua Maria Antônia, onde não se cultivou nada depois da morte de meu  avô, José Justo, só restou uma horta pequena pro diário, eles eram portugueses ambos da Freguesia de Coimbra, a cidade de minha avó tinha paragem, a de meu avô apeadeiro.

    Minha avó paterna era de Trás-os-Montes, meu avô de algum lugar que não sei, talvez Paris ou Bruxelas, veio ainda criança para o Brasil.

    Tive um pai ótimo que precisei chegar a maturidade para entendê-lo, generoso deveria ser seu nome mas foi batizado Raymundo Humberto Dupont, nasceu na rua Asdrúbal do Nascimento, quase praça da Sé, tinha defeitos, hoje isso não importa, e tenho minha mãe, hoje com noventa e oito anos, muito sensata, uma mulher alta de menos de um metro e quarenta, altiva sem ser arrogante, como meu pai sempre foi generosa, que felicidade a minha de ter uma mãe assim acolhedora, que literalmente dava colo, cuidou muito bem dos quatro filhos, este que agora escreve e que nada tem a reclamar,  de uma mãe de qualidades, defeitos eu nunca os encontrei, eles eu deixo para minhas irmãs dizerem, elas sempre acham algum erro em minha mãe. 

    Tive uma infância feliz, com choros, risos, ria tanto que molhava as calças, chinelos certeiros, boa educação, boa comida, leitura para dormir, e não era sempre a mesma estória pois como meu pai trabalhava com livros sempre tivemos muitos em casa, e ainda tínhamos carro e telefone, este último um privilégio para poucos, é que meu tio Mário trabalhava na Cia Telefônica e conseguiu uma linha para cada membro da família, o nosso era de parede, já sem manivela como era o de minha avó. Tive também uma madrinha linda, eu vivia grudado nela, pelo doce que ela era e pelos doces que fazia, doces e bolos para casamento, era capricho feito de açúcar, a casa dela era enorme com um quintal imenso, com pombas, galinhas, cabra que dava leite, porquinhos de passagem, ficavam pouco tempo lá e um cavalo chamado Pinguinha que puxava a charrete pintada de azul onde as vezes eu passeava.

    Era uma criança alegre mesmo sendo um boca-aberta que chorava muito.

Nunca fui chegado a futebol, naquele tempo já era adepto ao dê uma bola pra cada um, gostava de piscina, bom aluno nunca fui, gostava de desenhar e odiava tabuada, mas o tempo nos verga como bambu, aprendi toda ela, do um ao nove, me lembro de cor e salteado, e da palma da mão latejando de tanta reguada que levava por conta de não sabê-la, do sádico menino muito estudioso e tão perverso quanto a professora que quase o aplaudia de tanta felicidade no Grupo Escolar Santo Antônio do Pari onde fiz o curso primário, aliás a única experiência de escola  que tive na vida, já que o ginásio e o colegial estudei em casa por conta própria, 

    Assim cresci, morando perto do rio Tietê e das lagoas que existiam ao seu redor com muitos peixes, alguns maravilhosos e multicores, das garças que ao entardecer voltavam para o seus ninhos numa ilha que ficava um pouco antes da ponte de madeira da Vila Guilherme.

No  bairro do Pari passei também minha juventude, cheia de complexos, de burrice, de feiura, de inferioridade mas treze anos de análise resolveram isso e outros problemas, o da virgindade foi resolvido já saído da adolescência e efetivamente na rua Ribeiro de Lima.

    Tive quatro relacionamentos sérios e felizes com pessoas corretas e honestas, sem filhos, o último segue feliz como os outros foram, mas melhor, pela minha maturidade, de como vejo a vida hoje.

Sempre gostei muito de desenhar, fiz cinco anos de escola de desenho, toda minha vida desenhei muito, posso dizer que toda ela  é um desenho, às vezes definido ou rabiscado, bonito outras nem tanto mas posso dizer que tenho um traço sincero, faz pouco descobri-me poeta, posso rabiscar múltiplas ideias e isso é bom.

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